sábado, 29 de janeiro de 2011

ESTILO DILMA \PRIMEIRA PRESIDENTE MULHER NO BRASIL.

A república de batom




Em seus primeiros dias no Palácio do Planalto, a presidenta imprime ritmo intenso de trabalho e já deixa sua marca

Austeridade profissional marca primeiros dias do governo Dilma - foto: divulgação

Logo na primeira semana de trabalho no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff já imprimiu um ritmo bem diferente de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva — o expediente lá começou logo no domingo, dia seguinte à posse. Com uma nova chefe extremante rigorosa com o andamento de tarefas que delega, há, entre o funcionalismo, quem já esteja lamentando, pelos corredores, que “a paz acabou”.



Um dos que experimentaram a austeridade profissional da presidenta foi o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na segunda-feira, depois de uma manhã intensa de trabalho, ele achou que poderia tirar uma horinha de almoço. Sentou-se em um restaurante e, em menos de 15 minutos, recebeu um telefonema de Dilma. Ele disse que estava terminando de comer, e ela respondeu, em tom de ironia: “Embrulha e traga para comer aqui. Não tem comida no seu ministério, não?”. Cardozo deu uma gargalhada, deixou o prato na mesa e voltou ao Palácio do Planalto.



Em Brasília, há várias histórias — do tempo em que Dilma era ministra-chefe do governo Lula — de broncas em reuniões. Ela delega tarefas e cobra prazos. Sempre sabe o que foi discutido porque mantém ata dos encontros. Fica irritada quando alguém fala do que não conhece ou não sabe uma resposta que deveria saber. Também está sempe acompanhada de seu laptop — na primeira semana, em uma reunião com ministros, tinha dois. O próprio Lula contou que quando a conheceu, no final de 2002, quando ele se preparava para assumir a Presidência e buscava uma ministra de Minas e Energia, a então secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul chegou à sua sala com um computador portátil, e mostrou eficiência e segurança no tema. Conquistou Lula.



Na semana passada, Dilma chegou ao Planalto sempre por volta das 9h e não saiu nem para almoçar — com bem percebeu Cardozo. Não são raras as vezes em que ela pede a seus assessores para encomendar refeições para todos que estejam em reunião com ela.



À LA DILMA



O prato preferido



O prato preferido da presidenta é italiano: polpetone. Em Brasília, um de seus restaurantes prediletos é o Villa Tevere, onde a chef Suzana Leste prepara o polpetone que Dilma tanto gosta: feito de filé mignon moído, recheado de mozarela, com molho de tomate e gratinado com parmesão ralado — e salada verde de acompanhamento. Mineira, a petista também não dispensa pão de queijo.



O penteado



Celso Kamura, cabeleireiro e maquiador que faz consultoria para a presidenta, revela que a cor de batom preferida de Dilma Rousseff é vermelho com tom de cereja. Nas unhas, ela mantém os esmaltes em tons claros, como branco e bege, com acabamento natural.



Marca registrada de Dilma, o cabelo curto e modelado para o alto é prático. “Corto de dois em dois meses e faço luzes bem fininhas para iluminar”, conta Kamura. A escritora Henny Ribeiro, de 79 anos, é adepta do penteado. Para fazê-lo, escove o cabelo para alto. Prenda as mechas do alto da cabeça com rolinhos pequenos, passe fixador em spray e deixe por 15 minutos. Retire os rolos e desfie todo o cabelo com um pente fino. Modele usando o fixador, ensina o cabeleireiro Sid Giovanni, do Espaço Glecciano Luz, na Barra da Tijuca.



Especialistas: estilo só aparecerá em três meses



A presidenta Dilma Rousseff se dedicou na primeira semana do seu governo a reuniões com ministros e assessores, conversas com líderes partidários e representantes do Judiciário, além de audiências com autoridades estrangeiras. A rotina foi semelhante à dos antecessores os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. No próximo dia 14, Dilma faz a primeira reunião ministerial.



Cientistas políticos afirmam à Agência Brasil que só daqui a três meses será possível fazer as distinções entre o estilo de Dilma, Lula e Fernando Henrique. Para os especialistas, a primeira etapa de governo é sempre dedicada às negociações e a aplacar as tensões entre os partidos da base aliada.



“Mais atrás, no governo Fernando Henrique Cardoso, houve a mesma coisa. O presidente tem que, primeiro, compor o grupo executivo, o segundo e terceiro escalão. Essa negociação fica tensa quando os partidos começam a dividir o micro-espaço, o que começa a acontecer agora”, afirmou o cientista político Antônio Flávio Testa, que é pesquisador em várias instituições acadêmicas.



O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto disse que negociar é a palavra de ordem. “(A presidenta) tem de negociar primeiro para depois aparecer nas cerimônias”, afirmou. “Existe uma espécie de instituição informal de que há uma lua-de-mel que dura 100 dias e, dependendo do que se faz, isso fica marcado para o resto do mandato. Existe uma parte de planejamento e execução de medidas para mostrar resultados o mais rápido possível”, completou.



Nos primeiros oito dias como presidenta, Dilma recebeu, em seu gabinete, 14 dos 37 ministros que compõem sua equipe. Também houve tempo de conversar com líderes políticos estrangeiros, os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), da Câmara, Marco Maia (PT-RS) e do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso.



Em 2003, logo que assumiu o governo, Lula teve uma rotina semelhante a de Dilma. O então presidente recebeu os novos ministros, conversou com senadores e deputados, e ainda fez reuniões com autoridades estrangeiras.



Porém, Testa afirmou que depois dos 90 dias inicias do governo, Dilma já terá imprimido a sua própria maneira de governar. “Ela (Dilma Rousseff) vai ser mais pragmática e cobrar resultados. [Acredito que ela] vai ter um governo mais gerencial, com metas, como na administração privada. Já o Lula era eminentemente político”, disse, lembrando que a presidenta terá de “saber lidar com as questões políticas”.



O cientista político acrescentou ainda que “(a presidenta) vai ter que aprender a ser política no sentido de 'negociar'. Ela tem fama de ser boa gestora, mas se em três meses não aparecerem resultados, a imagem (dela) começa a ser arranhada. Tem que administrar com o Congresso e com sua equipe“.



Para Leonardo Barreto, a maior diferença entre Lula e Dilma será na forma de tomar decisões. “Lula escutava muito, raramente tomava uma decisão de forma autocrática”, afirmou citando a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. “A formação política, o assembleísmo do sindicalista, fez com que ele tivesse uma forma compartilhada de tomar decisões”, disse.



O professor da UnB ressaltou ainda que há diferenças já conhecidas nos estilos de Dilma e Lula. “A Dilma é de uma escola diferente. Tem uma pequena assessoria que a cerca e ela a consulta, mas as decisões são dela. Essa é a principal diferença”, afirmou.

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